A CIÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO NA PRIMEIRA INFÂNCIA

O conhecimento científico sobre o desenvolvimento inicial do cérebro tem informações importantes sobre importantes cuidados na primeira infância. Esses conceitos básicos, estabelecidos ao longo de décadas de neurociência e pesquisa comportamental, ajudam a ilustrar por que o desenvolvimento infantil – principalmente do nascimento aos cinco anos – é a base para uma sociedade próspera e sustentável.

OS CÉREBROS SÃO CONSTRUÍDOS AO LONGO DO TEMPO, DE BAIXO PARA CIMA

A arquitetura básica do cérebro é construída através de um processo contínuo que começa antes do nascimento e continua na idade adulta. As primeiras experiências afetam a qualidade dessa arquitetura, estabelecendo uma base sólida ou frágil para todo o aprendizado, saúde e comportamento que se seguem. Nos primeiros anos de vida, mais de 1 milhão de novas conexões neurais são formadas a cada segundo. Após esse período de rápida proliferação, as conexões são reduzidas por meio de um processo chamado poda, para que os circuitos cerebrais se tornem mais eficientes. As vias sensoriais, como as da visão e audição básicas, são as primeiras a se desenvolver, seguidas pelas primeiras habilidades de linguagem e funções cognitivas superiores. As conexões se proliferam e são podadas em uma ordem prescrita, com circuitos cerebrais posteriores e mais complexos construídos sobre circuitos anteriores e mais simples.

No processo de proliferação e poda, as conexões neurais mais simples se formam primeiro, seguidas por circuitos mais complexos.  O momento é genético, mas as primeiras experiências determinam se os circuitos são fortes ou fracos.  Fonte: CA Nelson (2000).  Crédito: Centro sobre a Criança em Desenvolvimento

AS INFLUÊNCIAS INTERATIVAS DOS GENES E DA EXPERIÊNCIA MOLDAM O CÉREBRO EM DESENVOLVIMENTO

Os cientistas agora sabem que um ingrediente importante nesse processo de desenvolvimento é a relação de trocas entre as crianças e seus pais, e outros cuidadores da família ou da comunidade. As crianças pequenas naturalmente buscam a interação por meio de sons, expressões faciais e gestos, e os adultos respondem com o mesmo tipo de vocalização e gestos de volta para elas. Na ausência de tais respostas – ou se as respostas não forem confiáveis ou inadequadas – a arquitetura do cérebro não se forma como esperado, o que pode levar a disparidades no aprendizado e no comportamento.

A CAPACIDADE DE MUDANÇA DO CÉREBRO DIMINUI COM A IDADE

O cérebro é mais flexível, ou “plástico”, no início da vida para acomodar uma ampla gama de ambientes e interações, mas à medida que o cérebro em amadurecimento se torna mais especializado para assumir funções mais complexas, é menos capaz de se reorganizar e se adaptar a novos ou inesperados desafios. Por exemplo, no primeiro ano, as partes do cérebro que diferenciam o som estão se tornando especializadas no idioma ao qual o bebê foi exposto; ao mesmo tempo, o cérebro já começa a perder a capacidade de reconhecer diferentes sons encontrados em outras línguas. Embora as “janelas” para o aprendizado de idiomas e outras habilidades permaneçam abertas, esses circuitos cerebrais tornam-se cada vez mais difíceis de alterar ao longo do tempo.

AS CAPACIDADES COGNITIVAS, EMOCIONAIS E SOCIAIS ESTÃO INTERLIGADAS AO LONGO DA VIDA

O cérebro é um órgão altamente inter-relacionado e suas múltiplas funções operam de maneira ricamente coordenada. O bem-estar emocional e a competência social fornecem uma base sólida para as habilidades cognitivas emergentes e, juntos, são os tijolos e a argamassa que compõem a base do desenvolvimento humano. A saúde emocional e física, as habilidades sociais e as capacidades cognitivo-linguísticas que surgem nos primeiros anos são pré-requisitos importantes para o sucesso na escola e, posteriormente, no local de trabalho e na comunidade.

O ESTRESSE PREJUDICA O DESENVOLVIMENTO DA ARQUITETURA CEREBRAL, O QUE PODE LEVAR A PROBLEMAS AO LONGO DA VIDA NO APRENDIZADO, NO COMPORTAMENTO E NA SAÚDE FÍSICA E MENTAL

Os cientistas agora sabem que o estresse crônico e implacável na primeira infância, causado por pobreza extrema, abuso repetido ou depressão materna grave, por exemplo, pode ser tóxico para o cérebro em desenvolvimento. Embora o estresse positivo (respostas fisiológicas moderadas e de curta duração a experiências desconfortáveis) seja um aspecto importante e necessário do desenvolvimento saudável, o estresse tóxico é a ativação forte e não aliviada do sistema de gerenciamento de estresse do corpo. Na ausência da proteção amortecedora do suporte adulto, o estresse tóxico é incorporado ao corpo por processos que moldam a arquitetura do cérebro em desenvolvimento.

Cérebros submetidos ao estresse tóxico têm conexões neurais subdesenvolvidas em áreas do cérebro mais importantes para o aprendizado e o comportamento bem-sucedidos na escola e no local de trabalho.

INTERVENÇÃO PREVENTIVA NA PRIMEIRA IDADE

Os princípios básicos da neurociência indicam que a intervenção preventiva precoce será mais eficiente e produzirá resultados mais favoráveis do que a remediação mais tarde na vida.

Uma abordagem equilibrada ao desenvolvimento emocional, social, cognitivo e da linguagem preparará melhor todas as crianças para o sucesso na escola e mais tarde no local de trabalho e na comunidade.

Relacionamentos de apoio e experiências positivas de aprendizado começam em casa, mas também podem ser fornecidos por meio de uma variedade de serviços com fatores de eficácia comprovados. Os cérebros dos bebês exigem relacionamentos estáveis, carinhosos e interativos com os adultos – de qualquer maneira ou em qualquer lugar que possam ser fornecidos, beneficiará o desenvolvimento saudável do cérebro.

A ciência demonstra claramente que, em situações onde o estresse tóxico é provável, intervir o mais cedo possível é fundamental para alcançar os melhores resultados. Para crianças que sofrem de estresse tóxico, são necessárias intervenções precoces especializadas para atingir a causa do estresse e proteger a criança de suas consequências.

REFERÊNCIA:

Center on the Developing Child (2007). A Ciência do Desenvolvimento na Primeira Infância (InBrief). Recuperado de www.developingchild.harvard.edu .

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